Obesidade e reganho de peso: de quem é a culpa?
- Dra Maria Clara Oliveira
- 6 de set. de 2024
- 3 min de leitura
O sucesso no tratamento exige uma abordagem que vá além da culpabilização, reconhecendo a necessidade de estratégias integradas e personalizadas para lidar com os desafios dessa condição.

Antes de chegar ao final do texto, eu posso te adiantar: a culpa não é sua!
De acordo com o Consenso sobre o tratamento nutricional do sobrepeso e da obesidade de 2022, a obesidade é uma doença crônica e progressiva, com causas multifatoriais. Essas causas estão principalmente ligadas ao estilo de vida, como sedentarismo e hábitos alimentares inadequados, mas também envolvem fatores genéticos, hereditários, psicológicos, culturais e étnicos. O tratamento da obesidade é complexo e de longo prazo, exigindo mudanças no estilo de vida, com foco no tratamento nutricional, prática regular de atividade física, intervenções psicológicas, além de opções de tratamento medicamentoso ou cirúrgico.
O maior desafio no tratamento da obesidade é evitar o reganho de peso. A dificuldade em manter o peso perdido é o motivo principal que leva a descontinuidade do tratamento, seja ele medicamentoso ou através de intervenções não farmacológicas.
Mas sabemos que o reganho de peso é favorecido por mecanismos ligados ao controle do gasto energético e ingestão alimentar, que visam reduzir o gasto de energia e aumentar o aporte calórico a fim de retornar ao peso anterior. Ou seja, ao realizarmos uma dieta para emagrecimento, com ou sem ajuda de medicamentos, eliminamos nossos estoques de gordura, mas também aumentamos os hormônios que elevam o apetite e reduzem o gasto energético basal do corpo, tudo confluindo para que se aumente a ingestão energética novamente e volte ao peso anterior.
A culpa não é sua!
Sendo assim, sempre digo aos meus pacientes: a culpa não é sua! O sucesso do tratamento da obesidade está em entender que é uma doença crônica, recorrente e progressiva. Considerar essas nuances torna o tratamento menos doloroso e culposo ao paciente. Reganhar o peso é um mecanismo natural após o processo de emagrecimento e, por isso, persistir é tão importante quanto dar o primeiro passo para começar.
Qual a melhor estratégia neste cenário?
Mas aí vocês perguntam: então o que eu posso fazer? Eu sempre digo aos meus pacientes que não existe fórmula mágica, não existe nenhuma regra quando se trata de manutenção da perda de peso que possa ser aplicada a todas as pessoas sem que tenha alguma variação de resultados. No entanto, trago aqui pelo menos 5 pontos importantes nesse processo, pois acredito que a compreensão deles te ajude a manter o peso perdido:
1- Entenda que a obesidade é uma doença crônica
Entender que se trata de doença crônica é fundamental para olhar para obesidade com outros olhos. Se é crônico, é algo que sempre necessitará de cuidados em maior ou menor grau, seja modificando a dieta, os estímulos de exercício físico ou até mesmo tratamento medicamentoso.
2- Estabeleça um peso de alarme
Após uma perda de peso expressiva durante seu acompanhamento com um profissional habilitado, é importante definir um peso de alarme. Esse peso é aquele que marca a necessidade de reavaliar algum ponto do seu tratamento junto com seu médico.
3- Mude o seu de estilo de vida
As mudanças feitas no estilo de vida para alcançar aquele resultado devem ser mantidas no longo prazo e sempre revisadas. Não iremos responder a uma dieta sempre da mesma forma, nem mesmo a um medicamento.
4- Esteja em constante vigilância
É natural que, ao longo da vida, passemos por fases com diferentes níveis de desafios, sejam eles profissionais, pessoais ou outros eventos que impactam tanto a regulação do apetite quanto o gasto calórico. Mudamos constantemente de trabalho, de preferências e de ambiente, e é comum que nosso corpo acompanhe essas transformações. Compreender essas mudanças é essencial para que cada nova fase, interna ou externa, nos motive a reavaliar e reforçar o cuidado com a nossa saúde.
5- Tenha uma rede de apoio
Nossas famílias e amigos desempenham um papel fundamental em nosso processo de transformação. O ambiente em que vivemos influencia diretamente muitos aspectos de nossas vidas. Contar com um espaço que incentive bons hábitos, pessoas que nos motivem e uma equipe ou profissional para nos acompanhar faz toda a diferença e pode ser o fator decisivo para mudar o jogo.
Desde 2018, acompanho pacientes com obesidade e, ao longo desse período, tivemos muitos avanços, tanto em estratégias dietéticas quanto em tratamentos medicamentosos e cirúrgicos. Acredito firmemente em um tratamento humanizado da obesidade, onde ouvir o paciente e considerar todos os pilares da saúde são fundamentais para o sucesso. Um dos aspectos mais importantes do meu trabalho é conhecer profundamente a vida do paciente, o que permite traçar estratégias personalizadas e assertivas em conjunto com ele. Sempre reforço que o medicamento, a dieta, os suplementos e até a cirurgia bariátrica não representam o fim da obesidade, mas são meios essenciais no combate a uma doença que, atualmente, se configura como uma das maiores epidemias globais.
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